Com mais renda e emprego, acesso à internet dá salto entre os mais pobres, mostra IBGE

N�mero de internautas supera pela primeira vez um ter�o da popula��o nas regi�es Norte e Nordeste. Quantidade de estudantes de escola p�blica conectados aumenta 156% entre 2005 e 2011. Mulheres j� t�m mais celulares do que os homens.

O avan�o da renda e do mercado de trabalho nos �ltimos anos proporcionou um salto no acesso � internet entre os brasileiros mais pobres. Habitantes de estados de Norte e Nordeste e fam�lias com renda inferior a um quarto de sal�rio m�nimo per capita experimentaram processo acelerado de inclus�o digital entre 2005 e 2011, mostram dados divulgados nesta quinta-feira pelo IBGE como parte da Pesquisa Nacional por Amostra de Domic�lio (Pnad). O n�mero de estudantes de escola p�blica com acesso � rede aumentou 156% no per�odo, atingindo dois ter�os desse grupo. Essa mesma popula��o, no entanto, continua sendo maioria entre os quase 90 milh�es de brasileiros com dez anos ou mais que jamais travaram contato com a rede.

No Brasil como um todo, a inclus�o digital mais do que dobrou no per�odo pesquisado, subindo de 20,9% a 46,5%. Mas foi nas regi�es Norte e Nordeste que houve maior avan�o, superando um ter�o dos habitantes pela primeira vez. Na primeira, apenas 11,7% da popula��o era internauta h� oito anos; em 2011, a fatia subiu para 35,4%, chegando a 4,7 milh�es de pessoas com mais de dez anos. Entre os nordestinos, a propor��o de internautas cresceu de 11,9% para 34%, somando 15,4 milh�es.
Alagoas quintuplica acesso e saiu da lanterna

S�o dessas regi�es os dez estados onde a popula��o de conectados mais se expandiu. O maior destaque foi Alagoas, que quintuplicou seu contingente de internautas em seis anos, para 903 mil. Com isso, a penetra��o da rede entre os alagoanos aumentou de 7,6% para 34,3%, tirando o estado da lanterna no ranking. Mas � l� que fica a quinta pior taxa de acesso no pa�s. Outro destaque foi Roraima, que aumentou sua popula��o de internautas em 346%, saindo da 20� para a nona posi��o. � o �nico estado das regi�es Norte e Nordeste com taxa de acesso maior que a m�dia brasileira, alcan�ando 48,1% em 2011.

Apesar dos avan�os, estados nordestinos e do Norte continuam ocupando os dez �ltimos lugares da lista, com a penetra��o da rede n�o atingindo um ter�o da popula��o em tr�s deles: Par� (30,7%), Piau� (24,2%) e Maranh�o (24,1%). Lidera o ranking o Distrito Federal (71,1%), puxado pelos indicadores de renda e trabalho favor�veis de Bras�lia. Depois v�m S�o Paulo (59,9%) e Rio, cuja popula��o internauta cresceu de 26,5% para 54,5%.

� Em 2005 a gente estava come�ando a sair daquela recess�o de 2003, e, em 2008, est�vamos naquele momento de aumento do emprego formal e da renda. A popula��o que passou a ganhar mais e foi beneficiada pelo maior acesso a cr�dito nesse per�odo passou a usar a rede, ou porque comprou um computador ou porque come�ou a trabalhar � avaliou Cimar Azeredo, coordenador de Trabalho e Rendimento do IBGE.

Dados n�o podem ser comparados com os de outros pa�ses

A Pnad � uma pesquisa por amostragem que, em 2011, visitou mais de 146 mil domic�lios em todo o Brasil. No estudo, s�o considerados internautas aqueles que acessaram a internet, por computador desktop ou laptop, pelo menos uma vez nos tr�s meses anteriores �s entrevistas. Como as pesquisas internacionais investigam o acesso nos �ltimos 12 meses, os dados do IBGE n�o podem ser comparados com os de outros pa�ses. O instituto planeja ajustar sua metodologia ao padr�o internacional na pr�xima edi��o da Pnad, que ser� divulgada no fim deste ano, quando tamb�m deve considerar o acesso � internet por celular e tablet.

O grupo de estudantes de escolas p�blicas � outro cuja inclus�o digital deu saltos nos �ltimos anos. Em 2005, menos de um quarto (24,1%) dos alunos da rede era de internautas � que n�o necessariamente acessaram a rede na escola. Em 2011, a fatia aumentou para 65,8%, representando a inclus�o de 11,7 milh�es de estudantes. Na regi�o metropolitana do Rio, a internet j� est� dispon�vel para 78,7% dos alunos de escolas municipais, estaduais e federais; a maior taxa � na Grande S�o Paulo, com propor��o de 87,8%. Por outro lado, no Maranh�o, menos de um ter�o dos estudantes da rede p�blica (30,7%) � internauta.

Prova de que a inclus�o digital acompanha a renda, entre os estudantes da rede privada o acesso � rede � praticamente universalizado, atingindo 96,2%. No Paran�, a penetra��o chega a 99%. Mais uma vez, Maranh�o est� na lanterna, com 14,8% de alunos de escolas particulares ainda sem acesso.

1/3 dos que cursam n�vel m�dio ainda exclu�do digital

Mas a inclus�o cresce com for�a mesmo entre aqueles com pouca instru��o. De 2005 a 2011, a penetra��o da internet entre os com menos de quatro anos de estudo subiu de 2,5% para 11,8%. No mesmo per�odo, a fatia aumentou de 76,1% para 90,2% no grupo com ao menos ensino m�dio completo. Apesar disso, quase um ter�o (28,5%) daqueles que est�o no ensino m�dio ou o deixaram incompleto n�o navegam na rede � embora, em 2005, o passivo fosse o dobro (57,3%).

� Jovens do ensino m�dio s�o os que mais acessam a rede, por conta das exig�ncias do estudo e das redes sociais. Mas um ter�o dessa popula��o ainda est� fora da internet, o que diz muito sobre a qualidade do ensino � afirmou Azeredo.

As pessoas com menor renda continuam sendo aquelas com menor fatia de internautas. Mas tamb�m � nesses grupos que o acesso mais cresce. Entre as pessoas que vivem em domic�lios com renda mensal per capita abaixo de um quarto do sal�rio m�nimo, por exemplo, a disponibilidade da rede cresceu de 3,8%, em 2005, para 21,4%, em 2011. Nas regi�es mais ricas � Sudeste, Sul e Centro-Oeste � essa fatia ultrapassa metade da popula��o com essa renda.

Idosos cada vez mais conectados

Mas n�o � apenas a renda que determina o acesso � internet: 62,6% da popula��o com renda domiciliar per capita entre tr�s e cinco sal�rios � internauta, fatia maior do que os 57,5% no grupo com mais de cinco sal�rios. Isso acontece porque essa popula��o mais abastada � mais velha, e a idade est� bastante associada � inclus�o digital.

� � o efeito gera��o: gente que passou pela vida estudantil quando ainda n�o havia internet e talvez jamais seja inclu�da � avaliou o coordenador do IBGE. � Mas a popula��o mais velha est� acessando a internet cada vez mais. S�o pessoas que hoje precisam, por exemplo, enviar a declara��o do Imposto de Renda e o banco pelo computador.

De fato, o acesso � rede entre aqueles com 50 anos ou mais saltou de 7,3% para 18,4%. O n�mero de internautas nesse grupo pulou para 8,1 milh�es em 2011, um aumento de 222% na compara��o com 2005. Mas os jovens ainda dominam, � claro: os grupos com maior inser��o digital s�o os de 15 a 17 anos (74,1%) e de 18 ou 19 anos (71,8%).

70% das mulheres t�m celular

A Pnad tamb�m investigou a posse de celulares pelos brasileiros. O estudo descobriu que, em 2011, pela primeira vez o percentual de mulheres que tinham celular ultrapassou o de homens: 69,5% das mulheres (60,3 milh�es) possu�am o aparelho, contra 68,7% dos homens (55,2 milh�es).

O aparelinho se disseminou durante os anos pesquisados, sua posse crescendo 107,2%, contra expans�o de 9,7% na popula��o brasileira. Em 2011, 115,4 milh�es de brasileiros, ou 69,1% da popula��o com dez anos ou mais, tinham celular. Em 2005, a propor��o era de apenas 36,6%.

O desenvolvimento social n�o � t�o determinante para a posse do celular quanto � para o acesso � internet. Estados como Goi�s (77,7%) e Mato Grosso do Sul (77,2%) t�m maior penetra��o de telefones celulares do que Rio (74%) e S�o Paulo (76%). Segundo o IBGE, isso reflete a dificuldade de acesso � telefonia fixa nesses locais, o que obriga a popula��o a adotar a tecnologia m�vel.

A metodologia do IBGE n�o � capaz de abranger o fen�meno das crian�as que j� estreiam na escola com seu pr�prio smartphone, mas mostra que 41,9% dos pr�-adolescentes (de 10 a 14 anos) j� t�m celular. H� oito anos, a fatia era inferior � metade disso, 19,2%.

Por Rennan Setti - O Globo