Antes mesmo de a bola rolar, um grupo de brasileiros j� comemora o resultado da Copa do Mundo. Para muitos, o evento pode representar a conquista de um emprego - ainda que tempor�rio - com sal�rio mais robusto.
Levantamento do Grupo Catho, especializado em recrutamento e sele��o de m�o de obra, mostra que a procura por profissionais cresceu no primeiro trimestre nas �reas de hotelaria e turismo, tradu��o e ensino de idiomas, bares e restaurantes - atividades relacionadas ao fluxo de turistas previsto para o mundial.
O movimento indica uma prepara��o das empresas para o per�odo da Copa, diz Lu�s Testa, diretor da Catho. Pesquisa da Confedera��o Nacional do Com�rcio (CNC) divulgada no in�cio do m�s prev� a contrata��o de aproximadamente 48 mil pessoas durante o evento. Os maiores impactos ser�o nos setores de constru��o, hotelaria e turismo, afirma Leonardo de Souza, diretor da ag�ncia de recrutamento Michael Page.
A demanda por profissionais provocou tamb�m aumento da remunera��o m�dia. Pesquisa da Catho indica que alguns sal�rios superaram a infla��o. Em hotelaria, a remunera��o m�dia cresceu 28,2% no primeiro trimestre em rela��o a igual per�odo de 2013. Na �rea de idiomas, o aumento foi de 12,5%. O IPCA no per�odo foi de 6,15%.
A alta do sal�rio m�dio reflete a car�ncia de m�o de obra. As empresas est�o com dificuldade para contratar, afirma o consultor Silvinei Cordeiro Toffanin, da Direto Contabilidade, Gest�o e Consultoria. O problema se agrava nas atividades que requerem mais de um idioma. "Estou com muita dificuldade para contratar quem fale ingl�s ou espanhol", relata Miki Hiroshe, diretor-geral do Hotel Matsubara, de S�o Paulo. O hotel precisa de ma�tre, gar�om, mensageiro e pessoal para portaria, recep��o e seguran�a, todos com um segundo idioma.
"Quem est� dispon�vel est� pedindo alto", reclama. Hiroshe tem ouvido dos candidatos a gar�om bil�ngue pedidos em torno de R$ 3,5 mil, enquanto a m�dia salarial do mercado fica, segundo ele, em torno de R$ 2,2 mil. O diretor j� admite que talvez n�o seja poss�vel contratar todos os profissionais que deseja. A ideia era aumentar a m�o de obra em 15% a 20%. O Matsubara tem 90 funcion�rios, 155 apartamentos e 300 leitos.
A �nica vaga preenchida at� o momento foi a de telefonista bil�ngue. Contratada em fun��o da Copa, Mariana Santoro, de 23 anos, assumiu o posto na primeira quinzena de abril. O desembara�o no idioma foi conquistado pela viv�ncia de um ano no Canad� e pela atua��o como recepcionista freelance em eventos internacionais. Desde o in�cio do ano, cursa a faculdade de secretariado bil�ngue.
A T4W, desenvolvedora de softwares para hotelaria e turismo, tamb�m enfrenta dificuldades. J� expandiu as �reas comercial e administrativa, mas tem passado apuros para encontrar programadores capacitados e com experi�ncia, conta Thiago Campos, 32 anos, diretor comercial. O sal�rio da fun��o fica em torno de R$ 5 mil.
Desenvolvedora do sistema Cangooroo, usada por grandes clientes - Agaxtur, Submarino Viagens, TAM Viagens - a T4W projeta elevar em 15% o n�mero de empregados para fazer frente � demanda. Campos afirma que o crescimento da empresa em 2013 foi de 25%. "Com a Copa, aumentou o n�mero de clientes que utilizam nosso produto e tamb�m a frequ�ncia de uso por aqueles que j� o utilizavam", explica. Para 2014, a empresa prev� mais 15% de crescimento.
Bares, lanchonetes e as vagas de vendedores ambulantes nos est�dios v�o gerar 12 mil empregos tempor�rios, de acordo com a CSM Brasil, respons�vel pelo gerenciamento da �rea de alimenta��o das arenas durante a Copa. Outras 3 mil pessoas com dom�nio de ingl�s ser�o contratadas para o receptivo dos camarotes. Ao abrir a campanha de recrutamento pela internet, a empresa se surpreendeu com a procura, revela Pedro Lima, de 31 anos, diretor de neg�cios da CSM Brasil. Esperava de 50 a 60 mil inscritos. Apareceram 160 mil.
Contratados formalmente como tempor�rios, os aprovados para a �rea de alimenta��o e bebidas v�o receber em m�dia R$ 120 l�quidos por dia de evento. Na recep��o dos camarotes, a di�ria � de R$ 250. Os valores s�o iguais nas 12 sedes. O que difere � o n�mero de dias trabalhados, conforme a quantidade de jogos. Lima diz acreditar que o maior legado da opera��o ser� a forma��o de m�o de obra especializada para grandes eventos.
Com apenas dois anos de Brasil, a ag�ncia americana GMR Marketing ser� a respons�vel pelo receptivo de turistas, especialmente estrangeiros, nas cidades-sede. Isso representa acr�scimo de 800 pessoas aos 200 funcion�rios que atuam regularmente no Brasil, explica o l�der para Am�rica Latina da GMR, Celso Schvartzer. Desses 800, cerca de 250 s�o estrangeiros da equipe da empresa. Outros 550 brasileiros - a maioria com dom�nio do ingl�s - est�o em fase final de sele��o.
Por trabalharem apenas nos dias de jogos, muitos dos candidatos v�o manter as atividades normais e aproveitar a contrata��o para refor�ar a renda. � o caso de Lennon Alves de Brito, escalado para o receptivo no est�dio do Maracan�. Com experi�ncia em hot�is e pousadas e tamb�m por ter vivido uma temporada em Viena, na �ustria, Lennon � professor. Mesmo durante a Copa, vai manter as aulas que ministra pela manh� - de ingl�s ou, para estrangeiros, de portugu�s. Quer usar o dinheiro extra para viajar ao exterior e promete tentar fazer amizade com estrangeiros no evento em busca de uma nova oportunidade para morar fora do pa�s.
De acordo com Schvartzer, a GMR tem experi�ncia em grandes eventos que vem de 13 jogos ol�mpicos e oito copas do mundo. Ele prev� que, se os patrocinadores come�arem a organiza��o dos Jogos do Rio 2016 logo ap�s o mundial de futebol, boa parte dos contratados agora poder� ser reaproveitada.
O projeto Parque da Bola, que vai funcionar no Rio, ter� cerca de 600 contratados. S�o 200 empregos tempor�rios diretos e mais 400 para os estandes das empresas que v�o participar como parceiras da iniciativa. O parque ir� exibir os jogos do mundial e apresentar shows musicais durante a competi��o. � uma iniciativa que j� foi empregada em outros pa�ses e est� chegando ao Brasil pelas m�os de J�lio Mariz, ex-presidente da Traffic.
O evento seguir� moldes semelhantes � Fan Fest, da Fifa, que s� recebe convidados. � uma forma de entreter brasileiros e estrangeiros de passagem pela cidade e quem vai trabalhar no evento. O n�mero de turistas no Rio durante a Copa � estimado em mais de 1 milh�o de pessoas. Com 50 mil metros quadrados de �rea, o Parque da Bola consumiu investimentos de R$ 10 milh�es. Os ingressos custar�o R$ 30, com meia-entrada a R$ 15. Depois das 20 horas o pre�o sobe para R$ 50, tamb�m com meia-entrada.
O projeto vai funcionar em 30 dos 32 dias da Copa. Haver� uma programa��o de shows de quinta a domingo e tamb�m nas v�speras e nos dias de jogo do Brasil. Parte da m�o de obra ser� bil�ngue, cedida por uma escola de idiomas, para atender os turistas. O visitante estrangeiro receber� uma pulseira especial de identifica��o.
A Dufry Sports est� selecionando 780 jovens de 18 a 25 anos para trabalhar como vendedores nas lojas dentro dos est�dios. Quem tiver at� 35 anos pode se candidatar ao cargo de coordenador. O recrutamento ser� feito at� 30 de abril em todas as sedes do Mundial. O ingl�s n�o chega a ser obrigat�rio, mas tem sido levado em conta.
A Hellofood Brasil, companhia novata de origem alem�, est� acelerando a entrada no pa�s. J� contratou 300 representantes comerciais. A empresa oferece um aplicativo gratuito para a compra de alimenta��o com entrega em domic�lio. O cliente pode pedir comida em casa ou no hotel pela internet, via site ou smartphone. A empresa chegou ao pa�s no ano passado e est� correndo para funcionar em 10 das 12 sedes do mundial. Espera receber turistas estrangeiros j� habituados a seus servi�os. A vantagem nesse caso � que o emprego n�o � tempor�rio. Os contratados fazem parte do plano de expans�o da base de restaurantes, afirma Marcelo Ferreira, 27 anos, diretor-geral.
No Recife, a contrata��o de tempor�rios ser� de cerca de 12 mil pessoas, contando a regi�o metropolitana, estima Bruno Herbert, presidente do Recife Convention & Visitors Bureau. O mundial coincide com o per�odo de festas juninas, o que, segundo ele, vai aumentar a procura de m�o de obra eventual. A rede hoteleira de Pernambuco precisa contratar de 500 a 600 pessoas. A montagem de infraestrutura tempor�ria para a Copa vai requerer mais ou menos 800 trabalhadores. O setor de transporte conta com mil vagas diretas, mais 3 mil em locadoras de ve�culos, empresas a�reas e outros. Cada emprego direto gera mais tr�s indiretos, totalizando os 12 mil. Pelos c�lculos do Recife Convention, a contrata��o tempor�ria vai injetar R$ 36 bilh�es na economia de Pernambuco durante tr�s meses.
Por: Valor