Copom sobe juros, que voltam ao nível de 10% ao ano após 20 meses

Na 6� eleva��o consecutiva, juro sobe 0,5 ponto, de 9,5% para 10% ao ano. Mercado financeiro prev� taxa de juros em dois d�gitos nos pr�ximos anos.

O Comit� de Pol�tica Monet�ria (Copom) do Banco Central subiu nesta quarta-feira (27), pela sexta vez seguida, a taxa b�sica de juros da economia brasileira. Com isso, a Selic passou de 9,5% para 10% ao ano � uma alta de 0,5 ponto percentual � confirmando assim a expectativa do mercado financeiro.

Apesar de ter subido os juros na propor��o esperada pelo mercado, o Copom alterou o comunicado divulgado ap�s o encontro. Nesta quarta-feira, divulgou a seguinte explica��o: "Dando prosseguimento ao processo de ajuste da taxa b�sica de juros, iniciado na reuni�o de abril de 2013, o Copom decidiu, por unanimidade, elevar a taxa Selic para 10,00% ao ano, sem vi�s".

No comunicado anterior, divulgado ap�s a reuni�o do Copom de outubro, h� 45 dias atr�s, o BC informava tamb�m que a alta dos juros contribuiria para "colocar a infla��o em decl�nio" e "assegurar que essa tend�ncia" persistiria em 2014. Novas avalia��es ser�o divulgadas pelo Copom na pr�xima semana, quando sai a ata da reuni�o desta quarta-feira.

Dois d�gitos

Com a decis�o, a taxa retornou ao patamar de dois d�gitos, algo que n�o acontecia h� 20 meses (desde mar�o de 2012), e, segundo as estimativas do mercado financeiro, assim deve ficar por alguns anos. A previs�o dos economistas dos bancos, captada por uma pesquisa realizada na semana passada com mais de 100 institui��es financeiras pelo BC, � que os juros b�sicos dever�o voltar a ficar abaixo de 10% ao ano somente em 2017.

Segundo o economista-chefe do banco ABC Brasil, Luis Ot�vio de Souza Leal, essa previs�o embute um "pr�mio de risco". "Tem muito a ver com a situa��o atual, com a desconfian�a em rela��o ao fiscal [contas p�blicas]. Mas dificilmente at� 2015 a gente vai ver os juros em um d�gito de novo. Da� pra frente, vai depender muito do que vai ser feito no novo governo. Se vai ter ajuste fiscal, como v�o avan�ar as reformas e a constru��o da pol�tica econ�mica", avaliou.

Dificuldade em manter juro abaixo de 10% ao ano

A discuss�o sobre a capacidade de o Brasil ter uma taxa de juros abaixo de 10% ao ano permeou o debate econ�mico nas �ltimas d�cadas e ainda continua em foco. De acordo com Luis Ot�vio de Souza Leal, a dificuldade em manter a taxa de juros em um d�gito no pa�s � um reflexo, tamb�m, do que ocorreu no passado.

"A gente ainda paga pelo passado inflacion�rio. H� v�rios mecanismos de indexa��o, como, por exemplo, a corre��o do sal�rio m�nimo [PIB mais infla��o], que considerado um 'pre�o farol' da economia. Quando voc� tem v�rios mecanismos formais e informais de indexa��o, resqu�cio de v�rias d�cadas de infla��o alta, h� uma resist�ncia maior da economia em crescer sem gerar impactos inflacion�rios", avaliou ele.

De acordo com o economista, o Brasil tem o chamado "PIB potencial" (quanto � poss�vel crescer sem gerar desequil�brios, como infla��o) menor do que o desejado. "Uma agenda de reformas trabalhistas, da previd�ncia e tribut�ria aumentariam a competitividade, a produtividade das empresas e conseguir�amos ter juros mais baixos. Pensando em prazos mais longos, tamb�m � preciso investir em educa��o. S�o coisas que demandam tempo. N�o � voluntarismo. Tem de ter condi��es para ter juros mais baixos", afirmou Leal.

Juros reais mais altos do mundo

Com a decis�o desta quarta-feira do Copom de subir os juros b�sicos para 10% ao ano, o Brasil disparou na primeira posi��o no ranking mundial de juros reais (com 4,1% ao ano) feito pelo MoneYou. Os juros reais s�o calculados ap�s o abatimento da infla��o prevista para os pr�ximos doze meses. Em segundo e terceiro lugares, aparecem a China (3,1% ao ano) e o Chile (2,8% ao ano). A taxa m�dia de juros real em 40 pa�ses pesquisados est� negativa em 0,6% ao ano.

Discurso da presidente Dilma

A subida dos juros e o retorno ao patamar de dois d�gitos n�o est� em conson�ncia com uma das principais marcas, at� ent�o, do governo Dilma Rousseff na �rea econ�mica. Mesmo defendendo o controle da infla��o, a presidente da Rep�blica destacou, por diversas oportunidades nos �ltimos anos, a queda dos juros b�sicos e tamb�m pressionou os bancos a reduzirem suas taxas ao consumidor.

Metas de infla��o

Pelo sistema de metas que vigora no Brasil, o BC tem de calibrar os juros para atingir as metas pr�-estabelecidas, tendo por base o �ndice Nacional de Pre�os ao Consumidor Amplo (IPCA), apurado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estat�stica (IBGE).

Para 2013 e 2014, a meta central de infla��o � de 4,5%, com um intervalo de toler�ncia de dois pontos percentuais para cima ou para baixo. Deste modo, o IPCA pode ficar entre 2,5% e 6,5% sem que a meta seja formalmente descumprida.

O presidente do BC, Alexandre Tombini, tem afirmado, por�m, que a infla��o teria queda neste ano frente ao patamar registrado em 2012 (5,84%) e novo recuo no ano de 2014. O mercado prev� um IPCA de 5,82% para este ano e de 5,92% para 2015.

A expectativa dos economistas dos bancos de que a alta dos juros de hoje n�o seja a �ltima do governo Dilma Rousseff. A previs�o � de que aconte�am dois novos aumentos em 2014, quando os juros subiriam para 10,25% ao ano (em janeiro)  e depois para 10,50% ao ano (em dezembro do ano que vem).

Fatores que pressionam a infla��o

De acordo com economistas, alguns fatores seguem pressionando a infla��o, apesar de o Banco Central j� ter subido os juros b�sicos em cinco oportunidades entre abril, quando a taxa estava em 7,25% ao ano, e outubro deste ano.

Segundo o gestor de investimentos da Lecca, Carlos Haber, a alta do d�lar registrada neste ano vai ser cada vez mais sentida em 2014 nos pre�os (importados mais caros ter�o seus pre�os elevados), al�m da expectativa de crescimento dos pre�os administrados (como gasolina e transporte urbano) - que foram contidos neste ano por conta das manifesta��es populares.

"O governo n�o promoveu um forte ajuste fiscal [conte��o de gastos]. Dificilmente isso vai se concretizar [em 2014] tendo em vista a elei��o no pr�ximo ano. O BC n�o vai ter muita op��o e vai ter de continuar subindo os juros. A pol�tica fiscal [de gastos p�blicos] n�o vai ajudar muito. Ano de elei��o tem muito gasto p�blico. O governo n�o vai conseguir fazer um ajuste fiscal [nas despesas] da forma como deveria", avaliou Carlos Haber.

A corretora Conc�rdia avaliou que o BC deve considerar em seus modelos, ainda que veladamente, a perspectiva de um iminente reajuste nos pre�os dos combust�veis - que pode ser postergado para dezembro, com impacto relevante sobre a infla��o somente em 2014.

Por Alexandro Martello - G1