Os protestos pelo pa�s n�o provocaram impacto s� na popularidade da presidente Dilma Rousseff. Sua agenda tamb�m sofreu uma guinada. Nos �ltimos dias, ela passou a receber representantes de movimentos sociais que esperavam por uma audi�ncia desde sua posse, em janeiro 2011.
Na lista dos que foram ou ser�o recebidos est�o organiza��es recentes, como o MPL (Movimento Passe Livre), mas principalmente militantes com rela��es antigas e desgastadas com o PT, como gays, ind�genas, camponeses, feministas e ativistas digitais.
A nova postura j� rendeu as primeiras fotos para Dilma e gerou algum notici�rio positivo. O hist�rico de desgastes com v�rios desses movimentos, por�m, sugere que a reaproxima��o n�o dever� ser f�cil. A lista de embates, reclama��es e diverg�ncias em pol�ticas p�blicas � extensa.

Um exemplo � o que ocorre com militantes da luta antimanicomial, setor historicamente ligado ao PT, e ativistas que pedem revis�o da pol�tica de combate �s drogas.
O alvo do segmento � a ministra Gleisi Hoffmann (Casa Civil), a quem atribuem a responsabilidade pela ado��o de uma pol�tica muito conservadora, em diversos aspectos contr�ria ao que era defendido por petistas no passado.
Esses grupos discordam de dois dos pilares do plano do governo de combate ao crack: as interna��es compuls�rias de dependentes e os repasses de recursos para comunidades terap�uticas religiosas.
Dois eventos s�o citados como marcos do distanciamento. O primeiro foi o convite que Gleisi fez � psic�loga evang�lica Marisa Lobo para o lan�amento do programa. Tida como inimiga dos ativistas, Lobo � a formuladora do projeto que permitia a oferta de tratamento para homossexuais, ideia apelidada de "cura gay" derrubada na C�mara.
O segundo foi um e-mail repassado por Gleisi para o ministro Alexandre Padilha (Sa�de) pedindo a "flexibiliza��o" na contrata��o das entidades religiosas, segmento para o qual o governo reservou R$ 100 milh�es. A troca de mensagens, que come�a com uma cobran�a do l�der de uma dessas comunidades, foi revelada pelo o jornal "Correio Braziliense" em 2012.
DECEP��O
Entre os gays, os eventos que causaram maior aborrecimento foram os recolhimentos de materiais de orienta��o ap�s press�o de evang�licos.
O caso mais conhecido foi o do kit de combate � homofobia vetado no Minist�rio da Educa��o quando a pasta era dirigida por Fernando Haddad, hoje prefeito de S�o Paulo. O mais recente foi o do cartaz "Eu sou feliz sendo prostituta", vetado por Padilha.
Ativistas reclamam por mais empenho do governo na aprova��o do PL 122, o projeto de lei que criminaliza a homofobia e sofre forte oposi��o de l�deres evang�licos.
Rec�m-recebido por Dilma, o ativista Toni Reis diz que a presidente se comprometeu "explicitamente" com o combate a todo tipo de discrimina��o: "At� ent�o, as rela��es com ela estavam bem nebulosas, para dizer o m�nimo".
Um dos setores com rela��es mais desgastadas com o governo e o PT � o que re�ne ind�genas e ambientalistas.
Al�m de apontarem queda no ritmo de demarca��es e congelamento na cria��o de parques, acusam o governo de falta de di�logo no processo de instala��o de hidrel�tricas na Amaz�nia, reclamam da proximidade com ruralistas e fazem cr�ticas � atua��o fracassada do governo no combate ao projeto do novo C�digo Florestal.
A iniciativa recente de reformular os procedimentos para demarca��o de terras ind�genas � o cap�tulo mais recente das contrariedades.
O azedume foi sintetizado pelo fil�sofo Egydio Schwade, do Amazonas, te�logo com d�cadas de hist�ria na sigla: "O PT no poder parece que esqueceu toda a trajet�ria, as pessoas e a causa que o constru�ram", escreveu num artigo replicado entre ambientalistas na internet. "� humilhante ver uma ministra do nosso governo [Gleisi] propor a revis�o de terras ind�genas".
O governo quer mudar o processo de demarca��o de �reas ind�genas para incluir �rg�os como o Minist�rio da Agricultura nas decis�es, hoje concentradas na Funai. Os indigenistas temem que isso d� mais for�a ao agroneg�cio, que v� nas terras ind�genas uma amea�a � sua expans�o.
Por Ricardo Mendon�a - Folha de S.Paulo