Apesar de quase dez anos da presen�a da miss�o da ONU, o Haiti � o segundo pa�s com maior incid�ncia de escravid�o moderna no mundo, de acordo com ranking in�dito sobre o assunto divulgado ontem.
Acima do Haiti, est� apenas a Maurit�nia, pa�s do oeste africano onde cerca de 4% da popula��o do pa�s vive escravizada e persistem pr�ticas como compra, venda e aluguel de pessoas, envolvendo principalmente mulheres em trabalhos dom�sticos.
Na outra ponta do ranking de 162 pa�ses est�o Reino Unido, Irlanda e Isl�ndia. O Brasil aparece numa posi��o intermedi�ria (94�), mas � elogiado por sua legisla��o.
O estudo � iniciativa da ONG Walk Free (caminhar livre, em tradu��o livre), financiada pelo bilion�rio australiano Andrew Forrest.
Ao todo, o levantamento estimou que haja quase 30 milh�es de pessoas submetidas a essas pr�ticas no mundo, o equivalente � popula��o do Peru.
O c�lculo levou em conta estudos de outras fontes e proje��es pr�prias baseadas em amostragem.
Com base em acordos internacionais sobre o crime, o estudo inclui como "escravid�o moderna" pr�ticas como an�logas � escravid�o (como vinculado ao pagamento de d�vidas e casamento de crian�as), tr�fico de pessoas e trabalho for�ado.
Respons�vel pelo ranking, o soci�logo norte-americano Kevin Bales afirma que, no caso haitiano, o principal problema se refere � pr�tica conhecida como "restavec" (fique com, em franc�s): crian�as da �rea rural que v�o morar com fam�lias em cidades, onde s�o obrigadas a realizar trabalhos dom�sticos em troca de comida.
"� uma pr�tica cultural tristemente pervertida numa forma de escravid�o", disse Bales � Folha, em entrevista por telefone ontem.
Segundo ele, a miss�o da ONU (Minustah), no pa�s desde 2004 e sob comando militar brasileiro, pouco fez para melhorar a situa��o, j� que esse n�o � seu foco principal.
Por outro lado, Bales elogiou o trabalho de ONGs locais que buscam evitar a ida de crian�as para a cidade e tentam reunificar fam�lias.
BRASIL, CHINA E �NDIA
No Brasil, segundo o estudo, cerca 1 em cada mil moradores trabalha em condi��es an�logas � escravid�o.
Bales disse que o pa�s � o que "provavelmente criou o melhor conjunto de pol�ticas do mundo" para combate da escravid�o, mas � necess�rio acelerar a sua implanta��o.
Entre as medidas elogiadas pelo soci�logo est� a "lista suja", cadastro oficial de empregadores que foram flagrados explorando m�o de obra an�loga � escravid�o.
Procurado pela reportagem da Folha ontem � tarde, o Minist�rio do Trabalho n�o respondeu � solicita��o para comentar o estudo.
�nicos pa�ses com popula��o acima de 1 bilh�o, a China e a �ndia s�o tamb�m os que possuem mais pessoas submetidas a condi��es an�logas � escravid�o.
Segundo Bales, isso explica os grandes contingentes. Ele desvinculou a pr�tica da escravid�o ao desempenho econ�mico de ambos os pa�ses na �ltimas d�cadas.
Por Fabiano Maisonnave - Folha de S.Paulo