O diagn�stico de ascens�o de parte da popula��o pobre � classe m�dia na �ltima d�cada, como defendido por alguns intelectuais e por t�cnicos do governo n�o � consenso entre especialistas em desigualdade e estratifica��o social.
Esses especialistas n�o negam a diminui��o da desigualdade social, a redu��o da concentra��o da riqueza, a melhoria da renda dos mais pobres e o incremento das perspectivas desse setor da popula��o. Entretanto, consideram que a renda n�o � o �nico fator a ser levado em conta � pesquisa divulgada pelo governo na semana passada classifica como classe m�dia os que vivem em fam�lias com renda per capita mensal entre R$ 291 e R$ 1.019 e tem baixa probabilidade de passar a ser pobre no futuro pr�ximo.
�Essa classe m�dia � uma fantasia que est� se criando�, critica Eduardo Fagnani, do Instituto de Economia da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). �N�o se define a classe m�dia pela renda, mas pela posi��o na estrutura populacional�, explica o economista que tamb�m participa do n�cleo de estudos Plataforma Pol�tica Social. Segundo ele, o conjunto da popula��o em ascens�o ainda depende muito do sistema p�blico de sa�de, previd�ncia e ensino e n�o tem entre as suas despesas o pagamento de escola particular para os filhos, a manuten��o de previd�ncia complementar, acesso a plano de sa�de privado ou o costume de fazer viagens ao exterior.
Ele lembra que a no��o de classe m�dia � associada a determinados padr�es de consumo e de forma��o educacional �que n�o temos no Brasil, como amplo acesso ao curso superior�, disse mencionando a situa��o da Europa Ocidental, anos ap�s a Segunda Guerra Mundial (1939-1956), quando a maior parte da popula��o se torna classe m�dia.
Em linha semelhante, o soci�logo Jess� Souza, autor do livro Os Batalhadores Brasileiros e professor da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), prefere chamar a popula��o em ascens�o econ�mica no Brasil de �nova classe trabalhadora� e critica o ponto de vista estritamente econ�mico que n�o considera �condi��es sociais, morais e culturais�, repassados em fam�lia, que permitem a �apropria��o� de h�bitos e comportamentos considerados como de classe m�dia.
Al�m da conceitua��o equivocada, Eduardo Fagnani assinala que atribuir basicamente �s pol�ticas sociais (como o Programa Bolsa Fam�lia) a raz�o da ascens�o tamb�m � um erro. �A meu ver, h� uma super valoriza��o das pol�ticas focalizadas. O governo est� batendo no bumbo errado�, disse � Ag�ncia Brasil. �O principal legado do governo Lula (2003-2010) foi articular mais positivamente a economia com o social. � um erro n�o atribuir o �xito a aspectos relacionados � pol�tica econ�mica�.
Segundo ele, �a partir de 2006 houve uma melhor articula��o entre os objetivos econ�micos e sociais. Isso � o ponto central. Houve uma aten��o maior no sentido de retomar o papel planejador do Estado, e este coordenar o investimento p�blico e privado (...) As pol�ticas fiscais e monet�rias passaram a ser menos restritivas, o cr�dito aumentou muito, teve o aumento real do sal�rio m�nimo; isso caindo o desemprego e reduzindo o trabalho prec�rio�.
Assim como Fagnani, a economista S�nia Rocha, ligada ao Instituto de Estudos do Trabalho e Sociedade (IETS) relativiza a import�ncia das pol�ticas sociais e o uso da express�o �classe m�dia".
Ela elogia a �surpreendente� diminui��o da desigualdade e elogia o programa Bolsa Fam�lia �que n�o se 'esgar�ou' ou se ajustou �s necessidades clientel�sticas tradicionais, o que � uma excelente not�cia e absoluta novidade em termos de mecanismo de pol�tica social no Brasil�. Para a economista, entretanto, foi o mercado de trabalho - respons�vel por 3/4 das rendas das fam�lias brasileiras - que exerceu o papel fundamental para redu��o da pobreza e da desigualdade.
Ela lembra ainda da crise econ�mica mundial que pode ter reflexos na din�mica da economia nacional. �O que ia bem numa conjuntura externa favor�vel come�ou a virar, deixando evidente o dever de casa n�o feito: investimento cronicamente baixo, defici�ncias enormes de infraestrutura, despesas elevadas e ineficientes da m�quina p�blica e n�vel educacional lament�vel. Com a crise externa, n�o tem como o mercado interno segurar o tranco. E a crise externa vai durar... Qualquer coisa que fa�amos internamente tamb�m vai levar tempo para maturar�, destacou.
Por Gilberto Costa - Ag�ncia Brasil