Grandes categorias esperam obter aumentos reais elevados

Grandes categorias profissionais com data-base no segundo semestre come�am suas campanhas salariais deste ano com dois aliados importantes: a infla��o e o aumento real j� conquistado pelos metal�rgicos do ABC. Com o recuo do �ndice de aumento de pre�os, � mais f�cil negociar ganhos reais robustos sem, necessariamente, conquistar reajustes nominais muito fortes. Em setembro, metal�rgicos, banc�rios, petroleiros e comerci�rios sentam � mesa com os setores patronais para negociar cl�usulas econ�micas e sociais.

Em junho do ano passado, o �ndice Nacional de Pre�os ao Consumidor (INPC), utilizado para deflacionar a maior parte dos reajustes salariais, acumulava alta de 6,80%. Neste ano, o INPC registrava alta de 4,91% nos 12 meses encerrados em junho.

O primeiro grande acordo deve sair no ABC paulista. L�, o sindicato dos metal�rgicos, o mais forte do pa�s, buscar� um aumento real de 2,39% para os trabalhadores de grupos como autope�as e funilaria. Esse �ndice foi conquistado na campanha salarial do ano passado, v�lida por dois anos para os cerca de 36 mil trabalhadores nas montadoras, que garantiu 2,55% de aumento real em 2011 e 2,39% para setembro deste ano - totalizando 5% de aumento real no bi�nio. O sindicato, filiado � Central �nica dos Trabalhadores (CUT), representa 105 mil trabalhadores.

Os metal�rgicos em S�o Paulo, que, assim como no ABC, conquistaram um reajuste nominal de 10% em 2011 - por�m, um ganho real maior, de 3,1%, j� que, � sua data-base, em novembro, a infla��o estava mais baixa -, v�o buscar um �ndice pr�ximo ao negociado pela CUT. "O ABC tem muita influ�ncia para os demais metal�rgicos do Estado, mas, como a infla��o est� mais baixa, isso vai nos ajudar na negocia��o", diz Cl�udio Magr�o, presidente da Federa��o dos Metal�rgicos da For�a Sindical, que negocia em nome de cerca de 750 mil trabalhadores, inclusive dos 260 mil metal�rgicos da capital.

Magr�o acredita que a redu��o do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) ser� trazida para a mesa de negocia��es pelos setores patronais como forma de limitar as conquistas dos trabalhadores, uma vez que, segundo ele, somente as montadoras tiraram proveito desse benef�cio. "O governo deu o subs�dio para os carros, mas o setor automobil�stico n�o o repassou para as autope�as, por exemplo. S� favoreceu as montadoras, o que dificulta a negocia��o com os demais setores. N�o me espantaria o reajuste neste ano ser menor do que o do ano passado", afirma.

A Confedera��o Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro (Contraf/CUT) j� apresentou a sua proposta para este ano. O reajuste pedido � de 10,25%, sendo 5% de aumento real. A data-base da organiza��o que representa mais de 500 mil banc�rios pelo pa�s tamb�m � em setembro. No ano passado, os banc�rios conquistaram 9% de aumento, sendo 1,5% de ganho real, ap�s 21 dias de greve.

De acordo com Carlos Cordeiro, presidente da Contraf, al�m de garantir o aumento real e a valoriza��o do piso, a alta rotatividade � prioridade na pauta da campanha. "Estamos muito preocupados com a rotatividade. Com a redu��o dos juros, os bancos est�o vendo que o lucro vai cair e tentam reduzir custos com rotatividade e, agora, tamb�m com o corte de postos de trabalho", afirma.

Para exemplificar, Cordeiro, que � presidente para a Am�rica Latina de um sindicato global de banc�rios, cita um exemplo no HSBC. Segundo ele, enquanto dez de um total de 6 mil trabalhadores foram desligados do banco na Argentina em 2010, 800 foram desligados no mesmo ano, tamb�m de um total de seis mil trabalhadores, apenas na sede do HSBC no Brasil, em Curitiba. O presidente da Contraf diz que, entre 2003 e 2011, o sal�rio dos banc�rios cresceu 14% em termos reais e, o piso, 32%, mas o sal�rio m�dio da categoria avan�ou apenas 3,16%, isso porque os bancos estariam em constante substitui��o da m�o de obra, pagando, em m�dia, 40% a menos na recontrata��o, segundo a Contraf.

"N�o existe justificativa para n�o conseguirmos esse ganho real. O lucro dos bancos continua alto, assim como as tarifas. Estamos dialogando com a categoria para estarmos preparados para uma greve", diz Cordeiro, segundo quem o setor patronal j� n�o sinalizou acordo em quest�es como condi��es de trabalho e garantia de emprego. O presidente da Contraf acredita que tanto bancos p�blicos como privados v�o trazer a redu��o dos lucros para a mesa de negocia��es, sendo que, segundo ele, os lucros est�o sendo maquiados por meio do aumento na provis�o para devedores duvidosos.

A Federa��o �nica dos Petroleiros (FUP), que negocia para 80 mil trabalhadores, indicou que vai pedir � Petrobras um reajuste composto pelo �ndice de Custo de Vida do Dieese somado a 10% de ganho real. Segundo Jo�o Ant�nio de Moraes, coordenador-geral da FUP, "a conjuntura � de crescimento e o setor energ�tico, principalmente de petr�leo e g�s, receber� grandes investimentos nos pr�ximos cinco anos".

Os comerci�rios tamb�m j� apresentaram a sua proposta. O reajuste conquistado no ano passado foi de 9,8%, sendo 2,2% de ganho real. Para este ano, o pedido inicial � o mesmo que o do ano passado, de 5% de aumento real, mas Luiz Carlos Motta, presidente da Federa��o dos Comerci�rios do Estado de S�o Paulo, reconhece que o pedido inicial � sempre maior para dar margem a negocia��es. "Estamos perdendo poder aquisitivo no piso salarial. Com os aumentos do m�nimo, o sal�rio da categoria est� defasado. Estamos pedindo a recomposi��o das perdas de anos anteriores", diz.

Motta acredita que, de acordo com as cl�usulas sociais que venham a ser conquistadas, o �ndice de reajuste salarial pode ser menor. Segundo ele, o fim do banco de horas, a cesta b�sica para os comerci�rios e a PLR s�o as principais reivindica��es da categoria.

Por Carlos Giffoni - Valor Econ�mico

Fonte: CNTM