Indústria reduz participação nas exportações, perdendo US$ 14 bi

Brasil tem diminu�do sua participa��o no com�rcio mundial: de 2,2% nos anos de 1950, a cerca de 1% hoje

O ano de 2013 ser� crucial para o posicionamento dos pa�ses no xadrez do com�rcio mundial. Os emergentes devem tomar a lideran�a nas vendas, enquanto a crise assola as na��es desenvolvidas. Nessa arrancada, o Brasil pode estar fadado a continuar um grande vendedor de commodities (produtos b�sicos com cota��o global, como soja, min�rio de ferro e petr�leo), j� que a apatia da ind�stria faz o pa�s perder cada vez mais espa�o em destinos priorit�rios. Desde o in�cio das turbul�ncias, em 2008, at� 2011, a falta de agressividade do setor custou US$ 14 bilh�es ao pa�s, segundo levantamento feito pelo GLOBO. O montante equivale � fatia do mercado de exporta��es perdida nesse per�odo nos principais destinos.

O dado n�o leva em conta 2012, porque as estat�sticas dos outros pa�ses ainda n�o foram fechadas. Por aqui, o total das vendas externas caiu, bem como as exporta��es do setor industrial. E o cen�rio tende a piorar neste momento decisivo j� que, apesar de ser a s�tima maior economia do mundo, o Brasil est� em 112� lugar no ranking de investimentos feito pela Ag�ncia de Intelig�ncia Americana (CIA). � o pior colocado dos Brics � sigla para o grupo de emergentes formado por Brasil, R�ssia, �ndia, China e �frica do Sul. J� entre os sul-americanos, s� est� � frente do Paraguai. O Brasil investe 18,9% do Produto Interno Bruto.

Com falta de investimentos e, consequentemente, queda de competitividade, o Brasil tem diminu�do sua participa��o no com�rcio mundial. Nos anos de 1950, chegou a absorver 2,2% dos gastos globais. Hoje, tem cerca de 1% na proje��o dos especialistas para 2012.

A participa��o da ind�stria despenca na pauta de exporta��es. Antes da crise, os produtos do setor representavam 71% do que o pa�s vendia para fora. Agora est� em 61%. O peso da ind�stria de transforma��o nos dez principais mercados passou de 54%, em 2008, para 52,5% no ano passado.

Perdas para China e Peru

Somente para os Estados Unidos, o grande parceiro comercial, o Brasil abriu m�o de vendas que chegariam a US$ 3,6 bilh�es. Esse seria o faturamento, se o pa�s tivesse mantido a sua participa��o nesse mercado. J� na Argentina, que compra basicamente produto industrializado, a perda equivale a US$ 1,3 bilh�o.

Com a ind�stria paralisada, as exporta��es do setor ca�ram 3,6% s� no ano passado. A China vem ocupando o espa�o brasileiro. Na Am�rica Latina, as vendas brasileiras t�m perdido terreno para produtos peruanos e colombianos. O Peru investe 25,4% do PIB e a Col�mbia, 24,1% do PIB. Al�m de investir aqu�m do necess�rio para impulsionar as exporta��es, o Brasil v� o empresariado se voltar para o mercado interno. O pa�s j� teve 30 mil empresas exportadoras, e esse n�mero caiu para 18 mil. Resultado: o embara�oso 24� lugar na lista de economias que mais exportam.

Enquanto isso, no mundo inteiro, o com�rcio internacional de bens mostrou mais vigor ao em 2012: cresceu 2,1% nos tr�s primeiros trimestres, segundo dados compilados pelo Banco Central. � um ritmo menor que a m�dia de 6% dos �ltimos anos, mas � o in�cio de uma retomada ap�s a crise.

� Esse era o momento de recuperar o mercado perdido, mas falta agressividade � concluiu o diretor do departamento de com�rcio exterior da Fiesp, Roberto Gianetti da Fonseca. � Estamos pagando o pre�o de anos de neglig�ncia com a nossa competitividade.

Acordo entre EUA e UE amea�a

Em alguns mercados, o Brasil aumentou sua participa��o. � o caso de Canad�, China, Cingapura e Holanda. Juntos, esses avan�os somam ganhos de US$ 2,8 bilh�es. No balan�o geral das exporta��es, incluindo as commodities, como o pa�s diversificou os destinos, os analistas preveem estabilidade na participa��o verde-amarela no com�rcio mundial, em torno de 1%.

Para suprir lacunas importantes da competitividade, como impostos excessivos, falta de infraestrutura para o escoamento da produ��o e burocracia que encarece o produto, a ind�stria espera um d�lar bem mais valorizado em rela��o ao patamar atual. Uma cota��o de R$ 2,30 agradaria 80% do setor. J� R$ 2,40 seria a alegria geral.

� O d�lar poderia ser o que fosse, se a gente fosse competitivo nas outras �reas e n�o tivesse todo esse custo Brasil � afirmou o presidente da Associa��o de Com�rcio Exterior do Brasil (AEB), Jos� Augusto de Castro.

Para a Confedera��o Nacional da Ind�stria (CNI), o risco de ficar para tr�s num momento como esse tem um agravante: o acordo que � negociado entre Estados Unidos e Uni�o Europeia. Esses s�o os dois maiores mercados dos produtos industrializados do Brasil. Se os gigantes econ�micos chegarem a um entendimento nos pr�ximos dois anos, ditar�o o futuro de pelo menos um ter�o do com�rcio mundial.

� � uma amea�a (� ind�stria brasileira), e se esse acordo vingar vai ficar muito mais dif�cil exportar � previu a gerente-executiva de negocia��es internacionais da CNI, Soraya Rosar: � O Mercosul j� n�o � mais solu��o para o problema da exporta��o brasileira.

Por Gabriela Valente - O Globo