'Jeitinho brasileiro': 82% acham que maioria pretende tirar vantagem, diz pesquisa

Levantamento da Confedera��o Nacional da Ind�stria (CNI) revela percep��o da popula��o sobre o tema

Vivemos em uma sociedade dividida entre malandros e man�s? O cultuado "jeitinho brasileiro" costuma ser usado para burlar regras, furar filas, andar pelo acostamento e sempre se sair melhor do que a pessoa ao lado. Mesmo quando ela � da sua fam�lia, seu amigo, vizinho ou colega de trabalho. � o que mostra pesquisa da Confedera��o Nacional da Ind�stria (CNI), feita entre 17 e 21 de setembro de 2012, e completada com dados somente divulgados no in�cio deste ano. A percep��o dos entrevistados em rela��o a forma de agir do brasileiro reflete o jeito com que tratamos as pessoas, mesmo as mais pr�ximas do nosso c�rculo afetivo: 82% acham que a maioria age querendo tirar vantagem, enquanto s� 16% dos entrevistados acham que as pessoas agem de maneira correta. Embora os dados tenham sido coletados no ano retrasado, a coordena��o da pesquisa diz que um ou dois anos n�o interferem na altera��o do n�vel de percep��o das pessoas.

- H� certas imagens sobre o comportamento do brasileiro que permeiam as percep��es das pessoas nas suas rela��es sociais. A ideia de que o brasileiro sempre burla normas e determina��es para obter o que almeja - e essa � uma defini��o do jeitinho - � recorrente. Para a grande maioria dos brasileiros, a busca de atalhos, solu��es facilitadas ou vantagens fazem parte do cotidiano das pessoas - explica Rachel Meneguello, cientista pol�tica da Universidade de Campinas (Unicamp).


Quando o assunto � confian�a, o n�mero tamb�m � alto: 62% dos brasileiros n�o t�m nenhuma (29%) ou quase nenhuma confian�a (33%) na maioria das pessoas. Os otimistas, que confiam muito no pr�ximo, s�o apenas 6%, e os que disseram ter alguma confian�a s�o 31%.

Quanto mais pr�ximo � o c�rculo social, maior � a confian�a. A pergunta sobre familiares teve 93% de respostas positivas, onde os entrevistados disseram depositar muita (73%) ou alguma confian�a em membros da fam�lia (20%). Logo depois, v�m os amigos, que inspiram muita confian�a em apenas 18% das pessoas. Os que disseram ter alguma confian�a foram 48%.

A pesquisa aponta ainda que o Nordeste � a regi�o onde as pessoas mais acreditam estar sendo passadas para tr�s. S�o 89% os entrevistados que acham que os outros querem tirar vantagem e s� 9% acreditam que as pessoas agem de maneira correta.Em seguida, vem o Sul, com 85% de grau de desconfian�a, seguido pelo Sudeste (81%) e Norte/Centro-Oeste (71%).

O perigo mora ao lado

T�o pr�ximos, mas t�o distantes: assim percebemos nossos vizinhos em 53% dos casos analisados. De acordo com a CNI, que entrevistou 2.002 brasileiros de 143 munic�pios, mais da metade dos brasileiros desconfia dos moradores da porta ao lado.

Para Rachel Meneguello, o alto n�vel de desconfian�a mesmo entre pessoas pr�ximas aponta para a fragilidade das rela��es sociais:

- Em contextos em que mesmo entre os grupos mais pr�ximos a rela��o � fr�gil, estamos diante de situa��es em que o tecido social est� esgar�ado.

A �ltima categoria analisada foi a de colegas de trabalho ou escola. Nesta faixa, 44% das pessoas confiam muito (9%) ou t�m alguma confian�a (35%) nas pessoas � sua volta. A desconfian�a, aqui, chega a 47%, sendo 22% os que confiam quase nada e 25% os que n�o t�m nenhuma confian�a nesse grupo.

No grupo dos que recebem at� um sal�rio-m�nimo, a desconfian�a aumenta, com 83% dos entrevistados acreditando que a maioria das pessoas quer tirar vantagem. O n�vel s� diminui na categoria dos que ganham de 5 a 10 sal�rios-m�nimos, mesmo assim chega aos 77%. Sobre a percep��o que o brasileiro tem da sociedade, o n�vel de desconfian�a � maior entre os mais pobres e os mais ricos. Na faixa de quem ganha um sal�rio-m�nimo, 67% dos entrevistados disseram ter pouca (26%) ou nenhuma confian�a (41%) na maioria das pessoas. No grupo que ganha mais de 10 sal�rios-m�nimos, 68% apontaram desconfian�a absoluta (39%) ou muita desconfian�a (29%) na maioria das pessoas.

- O que tem � essa vis�o de que o brasileiro sempre quer tirar vantagem, ele passa pelo acostamento, fura fila, n�o devolve o troco, cola na prova, e isso afeta essa avalia��o. As pessoas podem defender uma sociedade sem corrup��o, mas, nessas pequenas coisas, elas n�o t�m essa �tica, e a� voc� come�a a perder confian�a. � uma confian�a desconfiada - conta Renato da Fonseca, coordenador da pesquisa.

Entrevistados com n�vel superior s�o os que mais confiam nos outros. Mesmo assim, s�o apenas 19% os que acreditam que as pessoas agem de forma correta e 80% os que acreditam que elas querem tirar vantagem.

Por Leticia Fernandes - O Globo