Mulheres são apenas 5% do alto escalão das grandes empresas na América Latina

Estudo da McKinsey, feito a pedido da Unilever, mostra que companhias com diversidade de g�nero t�m resultados quase 50% melhores

As mulheres ocupam apenas 5% das cadeiras dos conselhos executivos das 345 maiores empresas da Am�rica Latina. Nos comit�s executivos, a participa��o feminina � um pouco maior, de 8%. Os dados s�o de pesquisa feita pela McKinsey, a pedido da Unilever, obtida com exclusividade pelo GLOBO e que ser� apresentada nesta segunda-feira durante o F�rum Momento Mulher, promovido pela empresa em S�o Paulo. O levantamento mostra ainda que o Ebitda (lucro antes de juros, impostos, deprecia��o e amortiza��o) das empresas que t�m pelo menos uma mulher em seu conselho cresce 47,6% mais que nas companhias que n�o as t�m como membro. Ainda assim, a diferen�a entre o sal�rio do sexo feminino e do masculino aumentou no Brasil no ano passado. A Pesquisa Nacional por Amostra de Domic�lios (Pnad) indicou que em 2012 a mulher ganhava em m�dia 72,9% do sal�rio do homem contra 73,7% em 2011.

Atentas a esses dados, grandes empresas j� trabalham com programas de equidade de g�neros, para estimular a participa��o ou a promo��o das mulheres. A Unilever � uma das empresas empenhada em reverter o baixo percentual de mulheres em seus n�veis de chefia � desde ger�ncia at� cargos de alto escal�o. A mineradora Vale, que atua em um dos segmentos que tem mais participa��o masculina, tamb�m tem programa semelhante, mas n�o focado nos cargos de chefia, e at� assinou em maio passado um compromisso com a Organiza��o das Na��es Unidas (ONU) para fortalecer o projeto.

� Existe uma complexidade muito grande dentro dos programas de equidade de g�neros, n�o � algo trivial, precisa come�ar de cima para que haja uma mudan�a cultural dentro da empresa � explica Aline Santos, vice-presidente s�nior da Unilever e respons�vel pela organiza��o do F�rum Momento Mulher, que ocorre at� o fim da tarde de hoje.

Aline � uma das l�deres do processo de ampliar o percentual de mulheres nos altos cargos da Unilever e sua hist�ria serve de exemplo. Ela, que come�ou como trainee, foi a primeira mulher a chegar ao conselho da empresa e j� na primeira reuni�o que participou pleiteou um banheiro exclusivo.

� S� havia banheiro masculino. Na segunda reuni�o que participei o feminino j� estava devidamente constru�do, na porta, ao inv�s da sinaliza��o com uma menininha, havia meu nome, afinal, eu era a �nica mulher � diverte-se com a mem�ria.

Na Unilever Brasil, as mulheres j� est�o em 49% dos cargos de chefia. Nas opera��es em todo o mundo da empresa o percentual � de 41%. Na minera��o, �rea da Vale, a rela��o de cargos nas m�os de homens e mulheres � muito mais desequilibrada. Nas bases da extra��o mineral, por exemplo, os homens s�o presen�a massiva. Na Vale, 13% do quadro de funcion�rios � composto por mulheres e esse percentual tem crescido. No in�cio do programa de equidade de g�nero, em 2011, a Vale perguntou a seus empregados porque eles achavam que havia t�o pouca mulher na empresa. Quase todos os questionados responderam que mulheres n�o podiam trabalhar na �rea, que muitas vezes exige esfor�o f�sico. A resposta serviu de diretriz para o desenvolvimento do programa de equidade.

� Hoje temos mulheres que dirigem caminh�es com toneladas de min�rio, ou que trabalham nas minas e em todas as outras atividades bases na empresa. Temos como princ�pio a vida humana. Se uma mulher n�o puder atuar em alguma fun��o, quer dizer que um homem tamb�m n�o pode � explicou Renata Mazoco, gerente de engajamento, diversidade e cultura da Vale.

Estudo da Universidade Harvard tamb�m j� comprovou que empresas que t�m maior diversidade se tornam mais eficientes e ampliam o resultado. A justificativa dada pelo pesquisadores americanos � que cada g�nero tem um modo de pensar e qualidades espec�ficas que enriquecem os debates, por exemplo, dentro dos conselhos administrativos. Neste mesmo levantamento, a professora Herminia Ibarra, analisa dados globais da participa��o da mulher no mercado (como que, por exemplo, 28% das empresas hoje t�m programas de equidade), identifica que h� o aumento da preocupa��o dos empregadores com este tema, mas refor�a em sua conclus�o que os ganhos e a ocupa��o de cargos importantes pelo sexo feminino ainda s�o muito inferiores aos dos homens.

31 homens e 4 mulheres

Isaura Renta Solano, de 32 anos, tamb�m atua em uma �rea preferencialmente ocupada por homens: a tecnologia da informa��o. Ela trabalha em uma empresa desenvolvedora de softwares de pequeno porte, em S�o Paulo, e divide sala outras 35 pessoas, sendo apenas quatro mulheres. Os homens trabalham no desenvolvimento dos programas. As mulheres s�o encarregadas de testar o que eles produzem.

� Somos minoria e ficamos restritas a esse controle de qualidade porque � uma fun��o que necessita concentra��o e perfeccionismo. Dizem que as mulheres s�o melhores nisso � conta.

Os sal�rios do lado da produ��o, no entanto, s�o muito mais altos. Isaura diz saber que alguns colegas �ganham um pouco mais mas outros ganham mais que o dobro. Para garantir aumento salarial anual, Isaura concentra parte da sua renda em capacita��o.

� Eu estou sempre me preparando, me atualizando. Todos os anos eu fa�o algum curso porque eu quero crescer na empresa e ganhar mais � disse.

Por Roberta Scrivano - O Globo