'O PIB, para o povo, é o emprego e a renda', diz Mercadante

Articulador pol�tico de Dilma, ministro petista n�o v� na economia um obst�culo � reelei��o

Com a tarefa de auxiliar a presidente Dilma Rousseff na articula��o pol�tica do governo, o ministro da Educa��o, Aloizio Mercadante, d� o tom da campanha da reelei��o, em 2014. "O PIB, para o povo, � emprego e renda", diz ele, amenizando o "Pibinho" de 0,9% de 2012 e a previs�o de um crescimento tamb�m pequeno neste ano. "� poss�vel, sim, combater a infla��o e manter a estabilidade preservando o emprego."

Mercadante participou, na quarta-feira, de uma conversa de sete horas entre Dilma, o ex-presidente Luiz In�cio Lula da Silva, o ex-ministro da Casa Civil Antonio Palocci, o presidente do PT, Rui Falc�o, e o prefeito de S�o Bernardo do Campo, Luiz Marinho. Na ocasi�o, foi feito um pente fino dos apoios conquistados para a campanha da reelei��o e avaliados os palanques para Dilma nos Estados.

A preocupa��o do Pal�cio do Planalto, agora, � com a economia. "Sobre isso (a reuni�o com Dilma e Lula) eu n�o falo", desconversou Mercadante.

O ministro criticou o ex-presidente do Banco Central Arm�nio Fraga, para quem a institui��o, atualmente, est� leniente demais com a infla��o, e deu uma estocada no PSDB. "Acho engra�ado porque, quando ele era presidente do BC, ningu�m podia escrever ou dizer que a taxa de juros podia cair. Mas, agora, dizer que a taxa de juros tem que subir pode", provocou. Fraga � um dos interlocutores do senador A�cio Neves, presidenci�vel do PSDB.

Na lista dos pr�-candidatos do PT ao governo paulista, Mercadante defendeu chapa pr�pria do partido ao Pal�cio dos Bandeirantes, mas sinalizou que o escolhido pode n�o ser ele. "Na vida p�blica, quem tem tempo n�o tem pressa", resumiu. Nos bastidores, petistas apostam que Mercadante poder� substituir a ministra Gleisi Hoffmann (Casa Civil) a partir de mar�o de 2014, quando ela deixar� a equipe para ser candidata do PT ao governo do Paran�. A seguir, os principais trechos da entrevista:

A presidente Dilma disse, na �frica do Sul, n�o concordar com pol�ticas que reduzem o crescimento para combater a infla��o. O mercado reduziu apostas na alta futura dos juros e ela afirmou que a declara��o foi manipulada. Mas esse n�o � o pensamento do governo, uma posi��o at� dogm�tica?
Quem fala de economia � o ministro da Fazenda e quem fala sobre juros � o presidente do Banco Central. A independ�ncia operacional do BC sempre foi respeitada no governo. A hist�ria econ�mica do Brasil talvez seja o melhor exemplo. Se desemprego combatesse a infla��o, o Brasil n�o seria o pa�s que teve a mais longa hiperinfla��o, com 14 anos. � poss�vel, sim, combater a infla��o e manter a estabilidade preservando o emprego. N�o h� uma rela��o mec�nica entre taxa de juros e emprego. O Brasil saiu dessa armadilha.

Como?
N�s t�nhamos, em 2002, uma d�vida l�quida do setor p�blico de 60,4% do PIB. E n�s tivemos, em 2012, 35,1%. Ent�o, houve um desendividamento do Estado brasileiro. O Brasil � um dos poucos pa�ses do mundo que, mesmo na crise, conseguiu continuar reduzindo sua d�vida p�blica. Essa redu��o permitiu que a taxa de juros, que era de 8,5% do PIB, ca�sse para 4,8%. O que significa isso em termos de valores? � medida que o Estado reduz o pagamento de juros, ele est� tirando do mercado o equivalente, em dez anos, a R$ 162,9 bilh�es. S� do ano passado para c� s�o R$ 39,6 bilh�es. Ent�o, a redu��o dos juros � uma mudan�a de padr�o da economia. O lucro financeiro das empresas e dos bancos caiu fortemente. Mas, de outro lado, o Brasil conseguiu, com as pol�ticas de inclus�o social, com o sal�rio m�nimo, o crescimento do emprego e o Bolsa Fam�lia, criar um amplo mercado de consumo de massas. A �ncora do crescimento � o mercado interno.

Que taxa de crescimento o governo prev� para o ano eleitoral de 2014?
Acho cedo para falar isso. Tem que aguardar um pouco a evolu��o do cen�rio, especialmente do internacional. A situa��o na Europa continua muito dif�cil, os Estados Unidos est�o se recuperando por causa do shale gas (g�s de xisto), que � uma economia muito inovadora, e a China desacelerou de um patamar de 11% para 7,5%. O Brasil melhorou suas reservas cambiais, reduziu de forma importante os juros e ajustou o c�mbio. Isso aumentou a competitividade. A presidenta Dilma reduziu o pre�o da energia, a carga tribut�ria das empresas, desonerou os produtos da cesta b�sica e est� fazendo um grande programa p�blico-privado de investimento. Vamos ter concess�es importantes de g�s e petr�leo que melhorar�o muito esse setor daqui para o ano que vem e estamos investindo muito em educa��o. Um grande passo que daremos para esse caminho ser� colocar 100% dos royalties do pr�-sal para a educa��o. Esse � um debate que o Brasil precisa fazer.

Mas est� havendo uma guerra no Congresso em rela��o aos royalties...
Tudo � pass�vel de debate, mas eu acho que, se as prefeituras, o governo do Estado e o governo federal aderirem a essa vis�o, daremos um salto extraordin�rio no Brasil, na pr�xima d�cada.

A alta popularidade da presidente Dilma resiste a um Pibinho em 2014, um ano eleitoral?
N�s tivemos um PIB de 0,9% (no ano passado). Talvez a corre��o do PIB seja um pouco mais. Eu tenho uma vis�o pr�pria sobre isso. Acho que, com essa redu��o dos juros, na hora em que voc� tira quase R$ 40 bilh�es do mercado, isso aparece na contabilidade. Mas os indicadores duros do crescimento s�o melhores do que isso: as vendas, o consumo de energia, o aumento de emprego. Acho que h� um problema de como voc� capta essa informa��o. Acho que foi um pouco melhor. Mas vamos aguardar, o IBGE sempre faz revis�o. O que � o PIB para o povo? O PIB para o povo � emprego e renda. E o emprego e a renda continuam crescendo.

Mas e se os juros subirem?
Eu acho que o Delfim Netto (ex-ministro da Fazenda) respondeu bem essa quest�o. Para a taxa de juros ter algum impacto em termos de desemprego, voc� tinha que ter uma eleva��o de juros de 25%, uma coisa que ningu�m pensa nem discute. � preciso desassociar infla��o e juros. N�s j� tivemos taxa de juros maior, com o Pa�s crescendo mais, e taxa de juros menor, com o pa�s crescendo menos. N�o h� essa rela��o direta como est� se tentando construir. Agora, o mundo est� buscando competitividade, aumentando o desemprego e arrochando sal�rio. N�s estamos buscando um caminho alternativo. O patamar de juros, hoje, � outro: pequenas oscila��es que podem ocorrer, e ocorrer�o, n�o interferem nesse mudan�a de patamar. A economia est� sofrendo uma transi��o, que � complexa, mas indispens�vel. O Brasil est� alinhando a sua taxa de juros �s taxas internacionais.

O ex-presidente do Banco Central Arm�nio Fraga disse, em entrevista ao 'Estado', que a institui��o, hoje, est� leniente demais com as expectativas de infla��o e mencionou at� a quest�o do emprego, que poderia causar uma press�o inflacion�ria. Como o sr. rebate isso?
Acho engra�ado porque, quando ele era presidente do Banco Central (no governo Fernando Henrique Cardoso), havia uma defesa muito forte da independ�ncia da institui��o. Ningu�m podia escrever ou dizer que a taxa de juros podia cair. Mas, agora, dizer que a taxa de juros tem que subir pode.

At� quando o Brasil consegue manter a Selic congelada em 7,25%?
Por tudo o que eu acabei de dizer n�o sou eu que vou opinar sobre isso. S� faltava agora voc� pedir para eu opinar sobre isso. N�o � minha �rea. A �nica coisa que questiono � que quem esteve l�, praticou as taxas (de juros) que praticou e dizia que ningu�m deveria opinar sobre as decis�es do BC agora faz exatamente o contr�rio. N�o acho correto. Eu, particularmente, respeito e confio na compet�ncia t�cnica do BC.

O governo cortou impostos da cesta b�sica, reduziu o pre�o da conta de luz e prev� a desonera��o do PIS e da Cofins que incidem sobre o �leo diesel para segurar o pre�o das passagens de �nibus. O que mais pode ser cortado?
A presidenta est� buscando aumentar a competitividade da economia . Redu��o do IPI e desonera��o da folha de pagamento aumentam a competitividade. Ela est� compartilhando a redu��o dos juros, estrutural, com o setor produtivo. Isso tem de ser feito numa vis�o de responsabilidade fiscal. A trajet�ria de desendividamento tem de ser mantida para que essas coisas sejam dur�veis. N�o podemos ir al�m daquilo que � a consist�ncia fiscal da pol�tica econ�mica. Por isso, tudo tem que ser feito passo a passo, avaliando os impactos para manter os investimentos sociais e a desonera��o, que s� � poss�vel com a trajet�ria de queda da d�vida p�blica. Ela est� sempre olhando para a rela��o d�vida p�blica.

O PSDB e o DEM criticam a forma como foi feita a redu��o da tarifa de energia el�trica e chamam a medida de "eleitoreira". A oposi��o diz que, por isso, a Eletrobr�s j� registrou o primeiro preju�zo. O governo n�o vai responder?
O Brasil tem que reduzir o custo da energia se quiser ser competitivo. Somos um pa�s onde investimentos estruturantes em recursos h�dricos j� t�m mais de 30 anos. A amortiza��o j� foi feita. Se a oposi��o prefere aumentar a margem de lucro dos investidores em energia h�drica, em vez de reduzir o custo para toda a economia, para o consumidor, para as fam�lias e para a ind�stria, n�s entendemos. Eles podem defender esse caminho, mas n�o � o nosso.

Por Vera Rosa e Marcelo de Moraes - O Estado de S.Paulo