Trabalho: Apesar da tecnologia, ofícios resistem ao tempo

Profissionais contornam dificuldades e se adaptam �s novas demandas para n�o deixar de fazer o que gostam

Escolher uma profiss�o �, na maioria dos casos, a defini��o de uma carreira. Aptid�o, voca��o e, em alguns casos, 'dom' s�o pontos chaves na hora dessa decis�o. Na atualidade, os jovens contam com apoio psicol�gico e alguns fazem testes que indicam com quais as �reas possuem maior afinidade, mas h� algumas d�cadas atr�s isso era bem diferente. A escolha era feita mais por necessidade, influ�ncia da fam�lia ou mesmo puro acaso.
 
Hoje em dia, os profissionais dessa �poca que ainda est�o em atua��o enfrentam um outro dilema. Com um mercado cada vez mais din�mico, que se renova com as tecnologias que cada vez mais se popularizam, muitos of�cios passam por transforma��es dr�sticas ou mesmo desaparecem. Diante deste cen�rio, n�o h� outra sa�da para aqueles que querem manter vivas suas profiss�es: resistir e se adaptar �s mudan�as.
 
Relojoeiro h� quase seis d�cadas, Elias Francisco da Chagas, 79 anos, conta que conheceu o of�cio por acaso, quando tinha 20 anos. �Quem me ensinou foi muito gentil e teve muita paci�ncia, comecei como aprendiz e ap�s dois anos me tornei profissional�, explica. Na d�cada de 60, Elias mudou-se de Catal�o para Goi�nia, onde abriu sua relojoaria. Paralelo a isso, trabalhou durante 15 anos nas pol�cias Civil e Militar como radiotelegrafista, profissional respons�vel por toda a comunica��o de entrada e sa�da em uma esta��o de radiocomunica��es, seja ela no mar, a�rea ou costeira.
 
H� 51 anos no mesmo local, o relojoeiro conta que hoje a quantidade de clientes diminuiu devido � chegada dos rel�gios de baterias, vindos principalmente do Paraguai, e por isso ele est� se adaptando a uma nova rotina. �Antes eu ficava aqui o dia inteiro, s� parava para almo�ar. Mas de alguns meses para c� estou trabalhando somente meio per�odo�, afirmou.
 
Apaixonado pela profiss�o, Elias afirma que o seu servi�o possibilitou o sustento da fam�lia e a educa��o dos filhos. �Eu gosto muito da minha profiss�o, com ela consegui sustentar minha esposa e os cinco filhos e n�o mudaria de of�cio se tivesse � oportunidade�. Prestes a completar 80 anos, o relojoeiro n�o para de fazer planos. �Estou diminuindo meu ritmo de trabalho. Quero me dedicar � minha esposa que esteve ao meu lado durante todos esses anos sempre me apoiando�, finalizou.
 
D�cadas dedicadas �s m�quinas de costura
 
Escolher um peda�o de tecido, desenhar, cortar e costurar. Essa receita parece f�cil, mas para realizar tal atividade � preciso aten��o, voca��o e carinho. S�o anos tendo somente a m�quina de costura como companhia. E assim os alfaiates e as costureiras conquistaram fregueses e criaram suas fam�lias.
 
H� 63 anos neste ramo, F�lix de Paula e Silva, 78 anos, conta que nasceu na fazenda e quando estava na adolesc�ncia o pai resolveu mudar para a cidade com o intuito que os filhos aprendessem uma profiss�o. �Mudamos porque papai queria que os filhos aprendessem um of�cio. Eu escolhi a alfaiataria�, disse. Ele conta que j� trabalhou em diversos ateli�s e com o sal�rio conseguiu construir e sustentar a fam�lia e educar os dois filhos.
 
H� cerca de 30 anos, ele costura em um c�modo em sua resid�ncia localizada no Setor Uni�o. �No come�o, eu atendia a alguns clientes no meu ateli�, mas como n�o tem lojas de tecidos e nem de aviamentos por perto ficou dif�cil aceitar encomendas, por isso optei por trabalhar para uma empresa fazendo palet�s e cal�as�, completou. Questionado se mudaria de profiss�o caso tivesse uma oportunidade, F�lix, que passa de oito a dez horas trabalhando, nega sem pestanejar. �J� passei por alguns momentos dif�ceis, mas n�o deixo a alfaiataria�, finalizou.
 
Of�cio de m�e para filha
 
A vontade de conquistar sua independ�ncia financeira e ajudar nas despesas da casa fez com que Reni das Gra�as Oliveira, 59 anos, procurasse h� trinta anos uma confec��o e se oferecesse para fazer um teste. �A dona da loja percebeu que eu tinha interesse, mas n�o sabia costurar. Ela me deu uma chance e, com um ano trabalhando na empresa, eu assumiu a ger�ncia�, disse.
 
Na �poca, a fam�lia morava em Hidrol�ndia e o marido de Reni n�o aprovou a iniciativa da esposa, chegando a ficar sem conversar com ela durante alguns dias. �Papai n�o gostou da escolha que a mam�e fez. Mas com o passar dos dias, ele percebeu que seria um aux�lio financeiro a mais�, explica Cristina, ca�ula de quatro filhos e a �nica que herdou da m�e o gosto pela profiss�o. Elas dividem um ateli� pr�ximo a Avenida Rio Verde, em Aparecida de Goi�nia.
 
Cristina conta que elas trabalham no ateli� at� as 18 horas e depois v�o para o apartamento da m�e. No local, a dupla costura at� o in�cio da madrugada. Ela conta que algumas de suas clientes se mant�m fi�is e acabam indicando seu ateli� para amigas e familiares. �Eu atendo m�es, filhas, primas, amigas e conhecidas. Acabo costurando para toda a fam�lia�, conclui. Reni � t�o requisitada que sua agenda est� lotada e novas encomendas s� daqui a 25 dias. Isso sem contar que em setembro ela ir� fazer um vestido de noiva. A�, a dedica��o ser� exclusiva.
 
Inovando no Cerrado

 
Airton Ferreira dos Santos morava no Rio de Janeiro quando aprendeu a consertar roupas. O goiano de 70 anos viu nessa profiss�o uma oportunidade e voltou para Goi�nia, onde montou o primeiro ateli� reparos da cidade. Ele conta que quando abriu as portas j� estava lotado de encomendas e o servi�o mais procurado eram as famosas cal�as boca de sino. �Para fazer esse modelo eu precisava de duas cal�as, eu abria, montava e costurava novamente. As pe�as eram importadas e, como a modelagem era diferente, sempre era preciso cortar um peda�o�, explica.
 
Airton, que h� 44 anos � alfaiate, explica que durante alguns anos tamb�m confeccionou ternos, palet�s e cal�as sob medidas, mas h� cerca de tr�s d�cadas ele se dedica somente aos consertos. A explica��o para a mudan�a � simples, consertar uma pe�a d� mais lucro que fazer. �Hoje existe muita loja de departamentos onde se encontra tudo pronto e a nossa profiss�o quase n�o existe mais�, completou. Ele conta que seus clientes s�o de longa data, alguns passaram de gera��o para gera��o e que mesmo mudando de Estado alguns ainda trazem pe�as para ele arrumar. �Tenho clientes em Bras�lia, eles at� hoje trazem roupas para consertar�, finaliza.
 
Em extin��o
 
Segundo a revista Galileu, at� 2020 algumas profiss�es correm o risco de serem extintas. Isso ocorre devido ao avan�o tecnol�gico e a automa��o de processos, ou seja, a substitui��o do homem pela m�quina.
 
Veja quais as profiss�es que podem desaparecer:
 
Caixa de banco
Com o dinheiro cada vez mais eletr�nico e processos automatizados mesmo para procedimentos de reconhecimento, como identifica��o biom�trica, vai ser cada vez mais dif�cil encontrar caixas nos guich�s.
 
Atendentes de telemarketing
O atendimento via m�quinas que imitam um atendente simp�tico j� faz parte da realidade. Por meio de intelig�ncia artificial, os rob�s saber�o identificar os problemas e propor solu��es, colocando fim aos servi�os de atendentes.
 
Metal�rgicos
Os que n�o forem substitu�dos pela atividade rob�tica provavelmente estar�o localizados em pa�ses de m�o de obra barata como hoje j� acontece com �ndia e China. No futuro, talvez a bola da vez seja o Vietn�.
 
Recepcionistas
Algumas empresas, como a Microsoft, j� estudam a instala��o de recepcionistas virtuais na entrada dos seus edif�cios. �Ao automatizar a rotina, n�s humanizamos as pessoas e deixamos que as m�quinas fa�am o que cabe a elas�, diz o futur�logo Ian Pearson.

Por Iv�nia Cavalcanti - O Popular